Afinal, o que é ler um texto com proficiência?

Já se perguntou o que significa a palavra proficiência? E como se faz para ler um texto com proficiência? É isso que iremos explicar neste texto. Acompanhe:

Imagem: Freepik.

O desenvolvimento tecnológico requer um leitor competente, isto é, um leitor que, diante de um texto escrito, tenha autonomia suficiente para realizar operações que vão desde a decodificação da mensagem no seu aspecto literal até o estabelecimento de um conjunto mínimo de relações estruturais e contextuais que ampliem a significação do texto a tal ponto que haja, efetivamente, apropriação da mensagem, do significado na multiplicidade de relações estabelecidas entre o texto e o leitor, entre texto e textos, entre texto e mundo.

Ao se falar na competência de estabelecer relações mínimas de significado, não se está querendo subestimar a complexidade do ato da leitura. Sabe-se que, por mais simples que possam parecer algumas relações estabelecidas a partir da leitura, o número de operações e habilidades exigidas para isso é muito grande.

Além disso, pressupõe-se também uma relação com o texto que desenvolva no leitor competências que contribuam para sua maior autonomia diante de qualquer tipo de texto – e quem sabe, no futuro, diante de qualquer tipo de linguagem – com o qual se defronte.

O exercício da leitura, na sala de aula, muitas vezes é prejudicado por falsas interpretações do que realmente significa ler.

A má compreensão do que está subentendido no processamento da leitura gerou práticas calcadas em modismos que enfatizavam processos intuitivos de compreensão de textos, pelo emprego de mecanismos de verificação, tidos como procedimentos para a compreensão, que se reduzem a clichês como “O que você achou do texto?”, ou “Qual a mensagem do autor?”, ou a comparações superficiais entre o texto e a realidade que cerca o aluno.

Interpretar identificou-se com abordagens espontaneístas, excessivamente empíricas. Não se percebeu a insuficiência desses procedimentos para o reconhecimento e a apropriação de mecanismos de linguagem contextualizados por intenções e circunstâncias.

Igualmente não se favoreceu um exercício que estimulasse a compreensão das relações internas que o texto estabelece em sua tessitura.

Não se pode esquecer que, para que o texto dialogue com o universo do leitor, é preciso que esse leitor mobilize conhecimentos prévios que possibilitem tornar o texto significativo.

Aqui serão tratados procedimentos descritos como níveis de abordagem do texto (v. BERTIN, Terezinha C. H. Linguagem e apropriação de conhecimentos. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo: 2000) ou como níveis de proficiência que o leitor deve atingir.

Os níveis de abordagem do texto podem ser assim descritos:

1. Compreensão imediata
Entendimento literal do texto, constatações, localização de dados e de informações, compreensão das unidades significativas do texto, reconhecimento da modalidade de linguagem construída a partir de intencionalidades mais explícitas, identificação do gênero a que o texto pertence.

Nota-se com alguma frequência o equívoco de se considerar esta instância óbvia demais e por isso desnecessária. Reitera-se que é um momento importante, pois, à medida que aumenta a complexidade dos textos, a atividade de localização de informações e levantamento de dados torna-se mais necessária. São as questões mais simples do estudo do texto, mas imprescindíveis.

Muitos são os alunos que, por não terem desenvolvido essa habilidade, cometem equívocos primários de leitura e de dedução de significados, inclusive em outras áreas do conhecimento.

2. Interpretação propriamente dita
Reordenação das ideias – explícitas ou implícitas – do texto, análise das relações possíveis entre os elementos que o compõem, relação dos elementos do texto com os dados do universo do leitor, verificação dos processos discursivos utilizados – argumentativos, informativos, estéticos ... – percepção das intenções explícitas e, principalmente, subentendidas, verificação das inferências realizadas pelo leitor, reconhecimento dos efeitos de sentido produzidos pelas escolhas composicionais e estilísticas.

Nesse nível, um dos maiores desafios da prática de leitura é sistematizar com o aluno a habilidade de estruturar inferências justificadas e/ou fundamentais nos elementos do texto. Aí reside o diferencial entre abordagens empíricas, meramente intuitivas, e uma abordagem que possa levar a uma interpretação consistente do texto.

Essa instância supõe ainda que o/a professor/a tenha clareza de que a interpretação propriamente dita é o momento em que a interlocução texto-leitor instiga as inferências possíveis, e não únicas ou exclusivas. Esse é um dos aspectos que fortalece a prática de leitura como prática essencialmente dialógica.

3. Extrapolação e crítica
Recriação do texto com outros propósitos, possível “leitura do mundo”, posicionamento do sujeito-leitor perante o texto, a partir das interpretações realizadas; apreciação crítica do texto e dos propósitos que presidiram a sua concepção.

Em uma reflexão sobre a prática de leitura que não pode ser esquecida a intertextualidade, sem dúvida um dos momentos mais ricos do diálogo leitor-texto.

O exercício da intertextualidade é também condição para o desenvolvimento pleno da prática da proficiência em leitura.

Extraído de:

Tudo é Linguagem – 8ª série. BORGATTO, Ana Maria Triconi; BERTIM, Terezinha Costa Hashimoto e MARCHEZI, Vera Lúcia de Carvalho. Editora Ática. São Paulo: 2006. 

- Veja também: 

ENEM: O que não escrever na introdução da sua redação

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